quinta-feira, 26 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Falta

Cada pedaço faz falta. Cada gesto. Cada risada. Cada cheiro. Cada som. Cada ronronar. Cada cochilo. Cada abraço. Cada pele. Cada fio de cabelo. Cada mão. Cada respiro. Cada beijo. Cada sim. Cada não.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Citando o bom senso

Uso este espaço, hoje, para transcrever uma das coisas mais sensatas, inspiradas e bonitas que já ouvi.

"Construa relações baseadas no perdão e não na pretensa, na pseudo perfeição. (...) É impossível você desenvolver relacionamentos profundos de afeto, sem ser ferido pelas pessoas da sua afetividade. Porque se você consegue caminhar com alguém em profundidade de afeto verdadeiro mesmo, esse alguém vai ferir você. Porque você não está convivendo com alguém que é perfeito. Você vai chegar no limite desse alguém. Só não vai chegar se ficar na superfície - aí não chega mesmo. Aí você consegue passar 20 anos, numa boa! Mas se você for lá mesmo, fundo, vai chegar no limite. Não é assim nas nossas relações familiares? (...) Não é assim nas nossas amizades mais próximas? E quando você chegar no limite de alguém ou você perdoa ou você descarta. Se você descartar, você caminha rumo à solidão. Aí você vai para um outro relacionamento superficial, quando ele começa a aprofundar e chega num limite onde o perdão é necessário, você sai fora e vai para outro relacionamento superficial. Quem vive pulando de relacionamento superficial em relacionamento superficial, vive na solidão, porque o relacionamento de afeto é um relacionamento em que as verdades do coração aparecem (...) " René

domingo, 1 de agosto de 2010

O presente

Era um presente lindo, mas pouco tempo depois começou a dar defeitos. O primeiro defeito era muito simples e passível de ser resolvido com alguns ajustes aqui e ali. Os que vieram dali por diante, já dependiam de reparos um pouco mais trabalhados, o que me fazia constantemente pensar em retorná-lo à loja onde havia sido comprado, pois ainda estava dentro do prazo de troca de produtos. Porém, eu não queria trocar o que me havia sido dado originalmente, afinal, daria para eu usá-lo mesmo assim. Segui apreciando meu presente, consciente de seus defeitos, que volta e meia apareciam e me irritavam um tanto, mas eu optava por ignorá-los, pensando que o tempo e a tolerância iriam trazer bons frutos. Pensei que eu iria me adequar aos defeitos do que me foi dado e que o que me foi dado fosse se adequar às minhas necessidades e objetivos. Não recorri a nenhuma loja de reparos e não o devolvi.

Passado o prazo de devolução, constatei que era aquilo mesmo. Era aquele presente defeituoso que eu queria, com seus prós e contras, mas ainda assim, o presente que me foi dado tão generosamente, escolhido a dedo, sem tirar nem por. E sim, eu estava incrivelmente satisfeita – apesar dos pesares. Havia ali um quê de destino misturado a um afeto imediato.

Então, em algum momento, o presente começou a rebelar-se. O presente começou a impor todos os seus limites e não me servia como deveria servir, conforme pensado por quem me deu. Quando eu precisava dele, não funcionava. Quando eu queria mostrá-lo para alguém, estava quebrado e eu tinha que deixá-lo em casa. Então, eu circulava sem meu presente – apesar de querer exibi-lo, pois quando ganhamos um presente bacana, gostamos de ouvir elogios, ou de alguma forma, gostamos de compartilhar a felicidade de ter recebido algo tão legal de alguém. Isso significa que somos, de alguma forma, especiais. Enfim uma conquista, um mimo da vida!

E assim, eu não levei o presente para o conserto e o presente não respondia às minhas tentativas caseiras. Aos poucos ele foi deixando de funcionar, até que parou! E eu não queria que ele fosse embora, eu não queria que parasse! Não quis acreditar. Revirei o presente de todas as formas, beijava-o, dizia que queria ele em minha vida para sempre e o quanto queria que ele acompanhasse todos os outros presentes, mas ele não reagia!

Nenhum alicate, nenhuma furadeira, nenhuma fita, nenhuma cola – nada iria trazê-lo de volta à vida. O presente se tinha ido; o meu querido e estimado presente. Então, irritada, quebrei o presente. Joguei-o no chão e o vi romper diante dos meus olhos. Catei os caquinhos e joguei na lixeira. Ao quebrá-lo, quebrei a mim mesma. Passei dias amargando a perda e, assim, continuo. Adoeci pela ira que havia tomado conta, somatizando a frustração e a fraqueza.

Ainda é difícil acreditar que ele se foi. Ele ainda me parece perfeito, dentro de todas as suas imperfeições de presente defeituoso. Sim, eu deveria ter recorrido a alguma loja de consertos ou simplesmente tê-lo trocado por outra peça semelhante na loja, enquanto ainda estava no prazo. Mas eu achei que as coisas se resolveriam sozinhas. Triste engano. Eis, então, que o presente se fez passado com toda a força e agora, mesmo a contragosto, me resta esperar por um novo presente. E isso só vai acontecer quando a dor passar, quando meus cacos internos forem colados e quando alguém resolver, novamente, me presentear. Mas quando será?