terça-feira, 27 de abril de 2010

Atrás do portão

"(...) a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes. O que escolher, então? O peso ou a leveza?" (Kundera, Milan. A Insustentável Leveza do Ser.)

Os grilhões dos engradados resistem por oferecerem uma leveza peculiar: atendem à necessidade de esquecer. Esquecer que se é, esquecer que se faz, esquecer os pingos do sol e os raios da chuva. Esquecer o peso da vida cotidiana, esquecer que se esquece de esquecer.

A leveza do levedo, que no fundo pesa, nos leva a socializar os absurdos calados, que se deixam ofuscar pela perspicácia de nefastos discursos envoltos por uma película de gravidade alarmante. O levedo leva os resquícios, esculpindo a lápide dos ofícios.

O sopro do desequilíbrio lança ao ar. É então, que o abandono às sensações é experimentado em sua forma plena: na leveza do peso do corpo abatido após uma queda-livre.