quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Na contramão

Um toco de passa
Um pouco de graça
Um louco desgraça
E passa a traça

Atrasa o fim
E traça o meio
Trespassa o vão
E laça o cheio

Um pouco do toco
Um toco do louco
Um soco, sufoco

Acelera a pena
Da vida pequena

Acena o trevo
Trava o medo

Encena em cena
O louco que rema

Na contramão

domingo, 25 de janeiro de 2009

Never Enough

Esta banda, que decora o universo da Luluzinha e do Charlie, tem pequenas pérolas expressivas...


"However much I push it down
It's never enough
However much I push it around
It's never enough
However much I make it out
It's never enough
Never enough
However much I do

However big I ever feel
It's never enough
Whatever I do to make it real
It's never enough
In any way I try to speak
However much I try to speak

However much I'm falling down
It's never enough
However much I'm falling out
It's never enough
Whatever smile I smile the most
However I smile
I smile the most

So let me hold it up
Just one more go
Holding it up for just once more
One more time to fill it up
One more time to kill
But whatever I do
It's never enough
It's never enough"

(The Cure)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Ela e Ele

Então ela jogou aquele joguinho que lhe é muito aprazível—o da sedução. Seduziu como pôde para mantê-lo em standby, um truque na manga. Qualquer profissional do jogo que se preze, sabe fazê-lo. Não dizia que sim, nem que não. Ela falava com paixão sobre sua sinceridade, porém era das meias-verdades que se servia. Não queria dizer explicitamente, mas tinha diversas pendências amorosas. A mais imediata de todas era seu último relacionamento nordestino, de braços longos e robustos. Deu algumas dicas aqui e ali, mas não foi direto ao ponto. Ela não sabia ao certo o que queria do rapaz. Queria tê-lo por perto—poderia lhe ser útil em alguma circunstância. Carta coringa. Porque jogador esparrama grãos de milho para as galinhas, mas depois rouba os ovos.
Ele, por sua vez, teimava em frisar a (pouca) diferença de idade que tinham, na tentativa de mascarar a sua imaturidade e, sobretudo, vulnerabilidade diante de toda aquela situação. Reduzido ao estado mental de uma besta, levado pelo desejo irracional e nervoso, temperado pelo álcool, perdeu logo na primeira partida. Ela deu xeque-mate. Deselegante e desastroso como um palhaço, ele pintou de vermelho a cara do público, na tentativa de disfarçar seu próprio ridículo diante do circo que lhe haviam montado. Bambou nas cordas até rompê-las, em desafino desconcertante.
E ela dançou ao som do cordel—dançou o nordeste nostálgico. E ele dançou uma inocência bestial e primitiva, desnudando a paixão sincera e intuitiva de quem se predispõe a renovar suas perspectivas. Porém, tudo que conseguiu foi se passar por raso. Perdeu na primeira partida. Teve de pedir a toalha e, cambaleando, deu um abraço no oponente. Saiu sorrindo um sorriso tímido, achatado, peculiar ao fracasso.

domingo, 18 de janeiro de 2009

O Sol é um Estômago Revirado com Pus

Pouco tenho a dizer. Digo o que já disse, disse o que ainda direi. Após a enxurrada, as palavras secam ao sol. Lá estão: estiradas. Assopro com toda a força que posso imprimir—apenas uma se move. Tento mais algumas vezes (sem muito sucesso). Só posso esperar pelo vento e pela chuva...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Agora

Quer saber? Já não faz diferença. Quer saber? Também não me importo.Quer saber? Já foi tarde! Quer saber? Não penso mais em você...Quer saber? Mudei. Quer saber? As coisas morrem. Quer saber? A vida é curta. Quer saber? O passado pertence ao passado. Quer saber? Sequer lembro o que almocei ontem. Quer saber? Agora gosto de outras músicas. Quer saber? Agora gosto de outros filmes e poesias. Quer saber? Agora mudei de religião. Quer saber? Agora moro em outro lugar. Quer saber? Tenho novos amigos. Quer saber? Você não faz parte de nada disso! Quer saber? Estes risos estão livres das suas piadas. Quer saber agora? Você quer realmente saber? Agora és fruto da memória e do devir; tempos pertinentes ao ruminar. Quando me calo, quando paro, quando durmo, quando penso—-lá está você, que pertence às horas vagas, ao devaneio, ao pânico, ao surto, à filosofia, às comparações, ao medo,ao desassossego. Mas agora...agora em que concluo esta pequena divagação neurótica—-e somente agora—-é que me despeço de você. Agora.