segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

uma nota

um feixe de luz que rasga o obscuro

sábado, 27 de novembro de 2010

Histórias de Elevador

- Você não está indo caminhar não, né?
- Não, por quê?
- Ah, bem! Tão magrinha...Eu sempre vou caminhar e, ainda assim, é uma dificuldade perder peso. Poderia haver uma transferência, não é? Eu te dou uma gordurinha e fico sequinha...
- Nada, você está bem assim!
- Parabéns!
- Pelo quê? Não é meu aniversário hoje...
- Parabéns por ser magra.
- Nossa, obrigada. Parabéns a você por ser simpática.
- Vou lá. Parabéns. Continue assim.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sufoco

Não sinto vontade.
Vontade de sentir.
Não me sinto à vontade.
A vontade de seguir.
Segue o ritmo,
Cego,
De trotes esparsos
No compasso dos passos curtos
E tempos mudos.

domingo, 10 de outubro de 2010

Nulidade

Eu sou um acidente
Música incidental
Desastre ambiental

Errante lancinante
Caminho tortuoso
Um plano poroso

Aguardo visitas
Idas e vindas
Na ilha do self

O mundo de um
Que se quer muitos
Que se faz tantos
Mas que é...

Nulo.

domingo, 5 de setembro de 2010

Ponto de encontro

Hoje eu percorri todos os pontos do encontro
Salpicada pela chuva
Hoje eu percorri todos os cantos do encanto
Ensopada, pela rua
E lá não te vi
Não mais te senti
Não mais te vivi
Não mais te chorei
Não mais te abracei
E lá não te vi
Não mais te ouvi
E lá você se foi
E um não era dois

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Falta

Cada pedaço faz falta. Cada gesto. Cada risada. Cada cheiro. Cada som. Cada ronronar. Cada cochilo. Cada abraço. Cada pele. Cada fio de cabelo. Cada mão. Cada respiro. Cada beijo. Cada sim. Cada não.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Citando o bom senso

Uso este espaço, hoje, para transcrever uma das coisas mais sensatas, inspiradas e bonitas que já ouvi.

"Construa relações baseadas no perdão e não na pretensa, na pseudo perfeição. (...) É impossível você desenvolver relacionamentos profundos de afeto, sem ser ferido pelas pessoas da sua afetividade. Porque se você consegue caminhar com alguém em profundidade de afeto verdadeiro mesmo, esse alguém vai ferir você. Porque você não está convivendo com alguém que é perfeito. Você vai chegar no limite desse alguém. Só não vai chegar se ficar na superfície - aí não chega mesmo. Aí você consegue passar 20 anos, numa boa! Mas se você for lá mesmo, fundo, vai chegar no limite. Não é assim nas nossas relações familiares? (...) Não é assim nas nossas amizades mais próximas? E quando você chegar no limite de alguém ou você perdoa ou você descarta. Se você descartar, você caminha rumo à solidão. Aí você vai para um outro relacionamento superficial, quando ele começa a aprofundar e chega num limite onde o perdão é necessário, você sai fora e vai para outro relacionamento superficial. Quem vive pulando de relacionamento superficial em relacionamento superficial, vive na solidão, porque o relacionamento de afeto é um relacionamento em que as verdades do coração aparecem (...) " René

domingo, 1 de agosto de 2010

O presente

Era um presente lindo, mas pouco tempo depois começou a dar defeitos. O primeiro defeito era muito simples e passível de ser resolvido com alguns ajustes aqui e ali. Os que vieram dali por diante, já dependiam de reparos um pouco mais trabalhados, o que me fazia constantemente pensar em retorná-lo à loja onde havia sido comprado, pois ainda estava dentro do prazo de troca de produtos. Porém, eu não queria trocar o que me havia sido dado originalmente, afinal, daria para eu usá-lo mesmo assim. Segui apreciando meu presente, consciente de seus defeitos, que volta e meia apareciam e me irritavam um tanto, mas eu optava por ignorá-los, pensando que o tempo e a tolerância iriam trazer bons frutos. Pensei que eu iria me adequar aos defeitos do que me foi dado e que o que me foi dado fosse se adequar às minhas necessidades e objetivos. Não recorri a nenhuma loja de reparos e não o devolvi.

Passado o prazo de devolução, constatei que era aquilo mesmo. Era aquele presente defeituoso que eu queria, com seus prós e contras, mas ainda assim, o presente que me foi dado tão generosamente, escolhido a dedo, sem tirar nem por. E sim, eu estava incrivelmente satisfeita – apesar dos pesares. Havia ali um quê de destino misturado a um afeto imediato.

Então, em algum momento, o presente começou a rebelar-se. O presente começou a impor todos os seus limites e não me servia como deveria servir, conforme pensado por quem me deu. Quando eu precisava dele, não funcionava. Quando eu queria mostrá-lo para alguém, estava quebrado e eu tinha que deixá-lo em casa. Então, eu circulava sem meu presente – apesar de querer exibi-lo, pois quando ganhamos um presente bacana, gostamos de ouvir elogios, ou de alguma forma, gostamos de compartilhar a felicidade de ter recebido algo tão legal de alguém. Isso significa que somos, de alguma forma, especiais. Enfim uma conquista, um mimo da vida!

E assim, eu não levei o presente para o conserto e o presente não respondia às minhas tentativas caseiras. Aos poucos ele foi deixando de funcionar, até que parou! E eu não queria que ele fosse embora, eu não queria que parasse! Não quis acreditar. Revirei o presente de todas as formas, beijava-o, dizia que queria ele em minha vida para sempre e o quanto queria que ele acompanhasse todos os outros presentes, mas ele não reagia!

Nenhum alicate, nenhuma furadeira, nenhuma fita, nenhuma cola – nada iria trazê-lo de volta à vida. O presente se tinha ido; o meu querido e estimado presente. Então, irritada, quebrei o presente. Joguei-o no chão e o vi romper diante dos meus olhos. Catei os caquinhos e joguei na lixeira. Ao quebrá-lo, quebrei a mim mesma. Passei dias amargando a perda e, assim, continuo. Adoeci pela ira que havia tomado conta, somatizando a frustração e a fraqueza.

Ainda é difícil acreditar que ele se foi. Ele ainda me parece perfeito, dentro de todas as suas imperfeições de presente defeituoso. Sim, eu deveria ter recorrido a alguma loja de consertos ou simplesmente tê-lo trocado por outra peça semelhante na loja, enquanto ainda estava no prazo. Mas eu achei que as coisas se resolveriam sozinhas. Triste engano. Eis, então, que o presente se fez passado com toda a força e agora, mesmo a contragosto, me resta esperar por um novo presente. E isso só vai acontecer quando a dor passar, quando meus cacos internos forem colados e quando alguém resolver, novamente, me presentear. Mas quando será?

domingo, 25 de julho de 2010

juízes de si

No processo do perdão, o mais difícil é perdoar a si mesmo. Nós mesmos somos os piores dos juízes.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A bola e a bala

De quatro em quatro anos somos brasileiros. Bandeirinhas, faixas, pôsteres, ruas pintadas e lojas tematizadas por toda parte - a comoção é geral. Dia de jogo da seleção vira feriado nacional. São todos unidos e concentrados, acompanhando a saga dos batalhadores em campo. O futebol nada mais é do que uma válvula de escape para a necessidade de guerrear.

São onze homens: alguns no ataque, outros no contra-ataque, outros no meio do campo (de batalha), outros na defesa. São tiros (de meta)e artilheiros.

A bola e a bala.

Violência velada.

Não gosto de futebol, mas reconheço que seja uma forma saudável de externar a avidez pela competição. Nutrir raiva por outros países e reafirmar o seu patriotismo através da bola (e não da bala) é, de fato, razoavelmente saudável e economicamente interessante. Certamente, a indústria do futebol não é tão rentável quanto a indústria bélica, mas desempenha um papel considerável na política e cultura de países como Brasil e Argentina.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O berço

Acordou por volta das oito da manhã. A luz penetrou suas pálpebras gradualmente. Abriu os olhos e, desorientada, buscou reconhecer a cama nada familiar, que suportava seu corpo alquebrado. Ouvia um choro incessante ao fundo. Um choro de recém-nascido. Uén. Uén. Dali a alguns minutos, Doutor Jarbas adentra a sala com um bebê no colo. Uén. Uén.

As imagens embaralharam-se em sua cabeça vertiginosamente. Cerrou os olhos. Ao abri-los novamente, viu-se na sala de sua casa, e seu pai embalava o bebê de plástico no colo, dizendo: “Sua filha nasceu! Tome conta dela!”. A bebê de plástico, de cerca de quarenta-e-cinco centímetros, abria a boca mecanicamente – Uén! Uén! Havia tinta vermelha em sua barriga.

Ela largou o bebê em cima da bandeja cirúrgica, em estado de choque. Subitamente, tomada por um senso de responsabilidade maternal, se levantou e começou a gritar: “Ela precisa de um berço! Ela não pode ficar na bandeja.” A bandeja representava um grande descaso com aquele bebê de plástico inofensivo, pequeno, que berrava por atenção. Uén! Uén!

O berço foi providenciado. Tão logo o berço deu lugar à bandeja infame, surgiu uma questão onomástica. A mãe dizia: “Ela precisa de um nome. Ela não pode ficar sem nome.” Não pode ficar sem berço, nem nome. Uén...uén. “Melissa! O nome dela será Melissa!”. A mãe discordou: “Não gosto. Não me parece apropriado. Melissa é nome de sandália. Melissa é nome de meretriz ou travesti. Outro!”.

Pensou, pensou. Ficou sem resposta. Resolveu suspender a decisão. Resolveu aguardar mais alguns dias para ir ao cartório. Não registrou o nome nem o berço.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Atrás do portão

"(...) a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes. O que escolher, então? O peso ou a leveza?" (Kundera, Milan. A Insustentável Leveza do Ser.)

Os grilhões dos engradados resistem por oferecerem uma leveza peculiar: atendem à necessidade de esquecer. Esquecer que se é, esquecer que se faz, esquecer os pingos do sol e os raios da chuva. Esquecer o peso da vida cotidiana, esquecer que se esquece de esquecer.

A leveza do levedo, que no fundo pesa, nos leva a socializar os absurdos calados, que se deixam ofuscar pela perspicácia de nefastos discursos envoltos por uma película de gravidade alarmante. O levedo leva os resquícios, esculpindo a lápide dos ofícios.

O sopro do desequilíbrio lança ao ar. É então, que o abandono às sensações é experimentado em sua forma plena: na leveza do peso do corpo abatido após uma queda-livre.

sábado, 27 de março de 2010

Tracking Lies

Tricks and delusions make up the story
What's left's confusion and I'm only sorry

You say one day I'll learn to give it away
If there's hell to pay I won't be there

Time goes by as we track lies
Easy to say "hi", hard to say "goodbye"

Time to decide whether to stay dead or alive

Blow up your mind, where's your disguise?
Please don't try, don't try to hide

You say one day I'll learn to give it away
If there's hell to pay I won't be there

Time goes by as we track lies
Easy to say "hi", hard to say "goodbye"

(Soumn & Lenina Z)

link para download:http://cid-56b85b3be1cd274c.skydrive.live.com/self.aspx/grava%C3%A7%C3%B5es/Tracking%20Lies%20-%20Soumn%20and%20LeninaZ.mp3

obs1: ainda não foi mixada

obs2: jr., não fique irritado! :P

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Zona Real

A Zona Norte é a Real Zona -- ganha em todas as zonas de ataque.

Zona de poluição, zona de de pobreza, zona de risco, zona de transporte, zona cultural.

Cabelos zoneados, roupas zoneadas, comportamento zoneado.

A Norte é Zona por excelência.

O Rio é a melhor zona do mundo e a Norte, melhor zona do Rio.

E que venha o carnaval das escolas das zonas. Zona no pé e zona na cabeça.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ausência

A ansiedade nutria os dias. Envolvia uma espera que explodia em pensamentos, sensações e vida iminente. O estômago reclamava, mas o sangue pulsava, ritmando as ações cotidianas e despretensiosas.
Era o impulso nervoso dos dentes rangidos e unhas roídas que impelia ao movimento anti-inércia.
A busca nutria as horas. Momentos perdidos na vaguidão do alheamento auto-induzido. A cabeça questionava, mas o corpo, alerta, se punha a fazer—qualquer coisa.
Era o fluxo criativo incessante, dos calos nos dedos e das cordas vocais rompidas, que berravam paixões ocultas nas entranhas.
Era energia. Era sopro. Era essência.