Era um presente lindo, mas pouco tempo depois começou a dar defeitos. O primeiro defeito era muito simples e passível de ser resolvido com alguns ajustes aqui e ali. Os que vieram dali por diante, já dependiam de reparos um pouco mais trabalhados, o que me fazia constantemente pensar em retorná-lo à loja onde havia sido comprado, pois ainda estava dentro do prazo de troca de produtos. Porém, eu não queria trocar o que me havia sido dado originalmente, afinal, daria para eu usá-lo mesmo assim. Segui apreciando meu presente, consciente de seus defeitos, que volta e meia apareciam e me irritavam um tanto, mas eu optava por ignorá-los, pensando que o tempo e a tolerância iriam trazer bons frutos. Pensei que eu iria me adequar aos defeitos do que me foi dado e que o que me foi dado fosse se adequar às minhas necessidades e objetivos. Não recorri a nenhuma loja de reparos e não o devolvi.
Passado o prazo de devolução, constatei que era aquilo mesmo. Era aquele presente defeituoso que eu queria, com seus prós e contras, mas ainda assim, o presente que me foi dado tão generosamente, escolhido a dedo, sem tirar nem por. E sim, eu estava incrivelmente satisfeita – apesar dos pesares. Havia ali um quê de destino misturado a um afeto imediato.
Então, em algum momento, o presente começou a rebelar-se. O presente começou a impor todos os seus limites e não me servia como deveria servir, conforme pensado por quem me deu. Quando eu precisava dele, não funcionava. Quando eu queria mostrá-lo para alguém, estava quebrado e eu tinha que deixá-lo em casa. Então, eu circulava sem meu presente – apesar de querer exibi-lo, pois quando ganhamos um presente bacana, gostamos de ouvir elogios, ou de alguma forma, gostamos de compartilhar a felicidade de ter recebido algo tão legal de alguém. Isso significa que somos, de alguma forma, especiais. Enfim uma conquista, um mimo da vida!
E assim, eu não levei o presente para o conserto e o presente não respondia às minhas tentativas caseiras. Aos poucos ele foi deixando de funcionar, até que parou! E eu não queria que ele fosse embora, eu não queria que parasse! Não quis acreditar. Revirei o presente de todas as formas, beijava-o, dizia que queria ele em minha vida para sempre e o quanto queria que ele acompanhasse todos os outros presentes, mas ele não reagia!
Nenhum alicate, nenhuma furadeira, nenhuma fita, nenhuma cola – nada iria trazê-lo de volta à vida. O presente se tinha ido; o meu querido e estimado presente. Então, irritada, quebrei o presente. Joguei-o no chão e o vi romper diante dos meus olhos. Catei os caquinhos e joguei na lixeira. Ao quebrá-lo, quebrei a mim mesma. Passei dias amargando a perda e, assim, continuo. Adoeci pela ira que havia tomado conta, somatizando a frustração e a fraqueza.
Ainda é difícil acreditar que ele se foi. Ele ainda me parece perfeito, dentro de todas as suas imperfeições de presente defeituoso. Sim, eu deveria ter recorrido a alguma loja de consertos ou simplesmente tê-lo trocado por outra peça semelhante na loja, enquanto ainda estava no prazo. Mas eu achei que as coisas se resolveriam sozinhas. Triste engano. Eis, então, que o presente se fez passado com toda a força e agora, mesmo a contragosto, me resta esperar por um novo presente. E isso só vai acontecer quando a dor passar, quando meus cacos internos forem colados e quando alguém resolver, novamente, me presentear. Mas quando será?
domingo, 1 de agosto de 2010
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4 comentários:
wow. posso dizer que eh um perfeito encontro de analogias. devo ate dizer que me encontro em situacao parecida...talvez antes do presente quebrar e parar de funcionar. mas nao se preocupe. o presente certo sempre fica, sempre volta, sempre se-cola, se nao consegue te-lo de volta... é porque voce nao foi presenteada como deveria, é porque também nao poderia,nao ha necessidade de continuar com o presente quebrado...nao é mesmo? um novo sempre chega... e se quebrar... problema... um dia vai ser igual flores, um dia vai ser um presente que brota,floresce,cresce e ao final dos anos,morre, morrerá junto com voce! Beijao mulé forca e tudo de bom! saudades porra!
enfim... tô sem esperança! às vezes o presente vem no momento errado! e certas atitudes nossas, põem tudo a perder. Melhor perder a esperança e seguir adiante, pq não dá pra pra voltar no tempo! :(
Ou talvez o presente seja não ter o presente, seja a falta do presente e a consciência que isso desperta... Enfim...
Obrigada, mulé! Saudades de você tb! Volta logo, pÔ!!!!!!!!
'Havia ali um quê de destino misturado a um afeto imediato'. Destino, sempre nos apegamos ao que achamos que ele seja, e lutamos, lutamos por aquilo, mesmo que tudo mostre o contrário, queremos acreditar que "tem que ser" e no fim vemos que não era pra ser, que todos os sinais anteriores mostraram isso, mas não vimos...
muito legal lenina... quantas vezes fizemos isso com nosso presente? incontáveis... e nunca aprendemos... ou não?
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